quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A vida inteira pela frente

Pelotas perdeu duas moradoras nesta quinta-feira. Duas mulheres que teoricamente teriam "uma vida inteira" pela frente. Jovens que só queriam fazer mais uma atividade do dia a dia ou aproveitar o feriado. Duas vidas inteiras interrompidas.

Fatalidades que ceifaram estas duas vidas acontecem todos os dias, mas ainda assim não nos acostumamos a elas e a cada vez que vemos situações como estas, nos sentimos como se fosse a primeira. Apesar disso, nos acostumamos - ou preferimos acreditar - com a ideia de que morreremos de velhos, talvez doentes, sem forças para manter o sopro de vida que nos faz estar no tempo. Acostumamos tanto que lamentamos muito mais a perda dos jovens.

Toda vez que leio uma manchete de jornal que fala sobre um acidente de trânsito, ou que alguém que gosto vai viajar, fico pensando na neura que eu tenho com viagens. Acho que sou a única pessoa no mundo que, a cada vez que vai viajar, arruma o guarda roupas e não sai de casa sem deixar tudo organizado. Tudo isso pelo pavor da ideia de, se morrer no caminho, ao chegar na minha casa as pessoas achem (ou tenham certeza) que sou uma bagunceira :O. Freud explica. E Freud deve explicar também a lógica que está no fato de esta pessoa não ter medo de morrer, mas da imagem que os outros poderão fazer dela baseados no "estado" da casa, mas isto não vem ao caso.

É por isso que fico incomodada quando vejo imagenzinhas no facebook lamentando o fim do domingo e a chegada da segunda-feira, como se a vida só acontecesse aos finais de semana, feriados e férias. Como se estivéssemos impossibilitados de sermos felizes de segunda a sexta, no trabalho ou na escola. Como se quiséssemos abreviar estes dias no calendário.

Ter a vida inteira pela frente não é só ter a perspectiva de viver até os 100, 90, 80 ou 70 anos. Ter a vida pela frente é viver mais 10, 15, 20 anos ou dias, desde que cada momento seja valorizado: O filme, a companhia ou o capítulo do livro lido em casa em um dia de chuva; a conversa com os colegas e o serviço que cada um de nós presta à sociedade enquanto está trabalhando de segunda a sexta; a música boa que está tocando no rádio enquanto estamos presos no trânsito; o aprendizado, ainda que dolorido, do momento da perda. São apenas alguns exemplos de cada fagulha de tempo que pode ser muito bem aproveitado pra termos a "vida inteira pela frente" ainda que só tenhamos alguns instantes a mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário