segunda-feira, 27 de abril de 2009

LIVRO


O CAÇADOR DE PIPAS

Amir e Hassan eram dois amigos inseparáveis, a não ser apenas por uma condição, Hassan era filho do empregado de seu pai, um homem rico, poderoso, e respeitado no Afeganistão. Assim como seus pais haviam sido criados juntos, no passado, eles também viviam agora sempre grudados desde que Hassan nascera. Brincavam e, como ao filho do empregado não era permitido freqüentar a escola, devido à sua condição, Amir lia histórias para ele e, muitas vezes, se aproveitava da condição do amigo e inventava significados diferentes para algumas palavras para zombar de Hassan sem que este percebesse.
Os dois assistiam filmes, passeavam, jogavam cartas durante o inverno, mas o que os dois mais gostavam de fazer, era participar dos campeonatos de pipas. E Hassan era bom nisso, sempre sabia onde a última pipa iria cair. Fielmente ele corria atrás dela para trazer a seu maior amigo para que este pudesse exibi-la como prêmio depois das competições. E foi exatamente depois de uma dessas buscas que o destino separou para sempre a vida dois. Hassan sempre foi muito corajoso, e enfrentou maus bocados para defender seu amigo. E foi num ato corajoso desses que, por volta de 1975, depois de um campeonato de pipas em que a vencedora foi a de Amir, Hassan, depois de buscar o prêmio final, a última pipa cortada, foi trancado em um beco por Assef, um menino temido por todos os outros das redondezas. Assef queria a pipa azul que Hassan tinha em mãos, e depois de se negar a entregar o prêmio de seu amigo, Hassef foi violentado enquanto Amir assistia a tudo sem coragem para defender o amigo que tantas vezes o defendera e que, naquele momento, lhe dava a prova maior de sua amizade e devoção. Amir queria muito aquela pipa, principalmente para conquistar o carinho e o respeito do pai, que muitas vezes, demonstrava muito mais simpatia por Hassan, por sua coragem.
Depois de assistir àquela crueldade calado, Amir tentou se livrar da culpa forjando uma situação para que Hassan fosse acusado de roubo. E mais uma vez Hassan deu prova de sua lealdade confessando um ato que não havia cometido. Para defender seu filho, Ali, o pai de Hassan, foi embora da casa daquele que também havia sido seu amigo de uma vida inteira para defender seu filho de Amir.
Alguns anos mais tarde, por volta de 1981, a União Soviética invadiu o Afeganistão e Amir e seu pai tiveram que abandonar sua casa em Cabul para viver nos Estados Unidos. Na América viviam como cidadãos comuns, trabalhadores, e foi numa feirinha onde vendiam artigos de segunda mão que Amir, já com dezoito anos, conheceu aquela que mais tarde seria sua esposa. Logo que casaram Amir perdeu o pai para um câncer no cérebro. O casal não teve filhos e, depois de quinze anos de casamento, após um telefonema, Amir viu diante de si a oportunidade de se redimir de seus atos mais cruéis.
Amir foi chamado por um amigo da família que estava à beira da morte e, para sua surpresa, ele sabia de todos os atos de egoísmo que tinha cometido no passado. Mas havia agora uma chance de voltar a ser bom. Durante uma dura conversa, Amir descobre que Hassam era seu irmão, um filho que seu pai tivera com a mulher de seu empregado, logo depois que sua mãe morrera. Como se não bastasse, Amir soube que Hassan e sua mulher haviam sido mortos pelo regime talibã que agora tomava conta do Afeganistão. Ambos deixavam órfão um menino de aproximadamente seis anos. E é neste menino que Amir vê sua grande oportunidade de se redimir de todo mal que causara a Hassam.

COMENTÁRIO
O Caçador de Pipas nos faz refletir, em meio a uma narrativa envolvente, sobre o egoísmo, o medo de não sermos aceitos, e todos os atos que cometemos para que sejamos respeitados, e até amados, atos lícitos ou ilícitos. A relação de Amir e Hassan faz pensar sobre até que ponto somos melhores ou piores que alguém. Esta relação nos faz perceber que somos todos iguais. Enquanto Amir sabia ler e escrevia histórias maravilhosas, Hassan era ágil, esperto. Enquanto Amir foi capaz de mentir e trair, sabendo que perderia uma amizade verdadeira, Hassan confessou um ato que não havia cometido para defender seu amigo. E Amir utilizou uma estratégia que julgava infalível, simulou um roubo para incriminar seu amigo porque sabia que o roubo era considerado por seu pai o pior dos pecados. “Quem mata rouba do filho o direito de ter um pai, rouba da esposa o direito de ter um marido, quem mente, rouba o direito do outro de saber a verdade”, dizia seu pai. E mesmo acreditando que Hassan havia roubado os presentes de aniversário de Amir, mesmo assim, aquele homem que preservava a integridade perdoou Hassan. Perdoou por um motivo que só mais tarde Amir conheceria, perdoou para não perder a oportunidade de continuar convivendo com aquele filho que não assumira, fruto de uma traição. Perdoou porque ele também havia errado, também havia roubado. E só mais tarde Amir soube que aquele homem que julgava tão íntegro, também havia mentido um dia, uma vida inteira, e havia roubado a ele e a Hassan o direito de saberem que eram irmãos.
E é neste ponto que percebemos a importância de tratarmos todos como iguais. Aquele menino de “raça inferior”, um hazara, que não sabia ler e acreditava em tudo que lhe dissessem, era sangue do seu sangue. É neste ponto que paramos para pensar sobre o julgamento que fazemos das pessoas, sobre os estereótipos. É neste ponto que percebemos que não temos capacidades de julgar ninguém, porque todos nós erramos, todos nós roubamos. Todos nós temos um segredo guardado a sete chaves. Mas a maior lição que podemos tirar desta história brilhante, é que todos nós temos, todos os dias, a oportunidade de nos redimir. E vamos continuar errando, somos seres humanos, mas temos que aprender a perdoar se queremos realmente ser perdoados.

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